Olá caro leitor!

Como agentes ligados direta ou indiretamente ao desporto, conseguimos desde logo perceber que a principal diferença entre um grupo de trabalho – onde os indivíduos partilham um espaço em comum, apresentam objetivos definidos, papeis distribuídos, regras e estratégias – e uma equipa de alto rendimento desportivo se centra no fator tempo! Tempo para conhecer, partilhar momentos, partilhar experiências, criar ligações de interdependência, essencialmente na execução da tarefa mas também fora dela.

Sei que a coesão de tarefa terá sempre prioridade e maior enfoque na produtividade, mas quando a essa interdependência juntamos a coesão social (os elementos fora do contexto de trabalho interagirem, saberem das vidas extra laborais dos seus pares, preocuparem-se com o outro), há um plus… pois se eu me preocupo contigo fora das quatro linhas, garantidamente que me irei superar numa transição defensiva para te ir ajudar no corredor lateral, por exemplo.

Sérgio Conceição na última entrevista grande entrevista que deu á comunicação social destacou aspetos fundamentais para a construção da equipa coesa na tarefa e socialmente.

Como base tenho de destacar esta citação “Não admito que um capitão não tenha conhecimento que um colega seu foi pai há três meses, isto para mim não é possível“. Essa e outras situações fizeram com que o treinador do FC. Porto desenvolve-se um conjunto de normas que privilegiassem o coletivo, o seu crescimento de tarefa e social e a sua estabilidade.

Destaco aqui apenas uma:

  • Não permitir a utilização de telemóveis em zonas associadas á tarefa desportiva“. Com esta medida, para além da componente do rendimento – pois utilizar e aceder a informação fora do contexto de tarefa em momento de tarefa desfocaliza do trabalho, penso que o Sérgio aqui também pretendeu que houvesse mais proximidade, comunicação, partilha e conhecimento entre os jogadores.

É com esta norma que o treinador do FC. Porto criou, tendo como medidor a sua observação inicial da equipa, que partimos na linha do tempo… esse fator-chave que um grupo de trabalho necessita para ser uma equipa de alto rendimento desportivo de sucesso. Vamos perceber quais a fases pela qual um grupo passa e qual a abordagem do treinador nesses mesmos momentos.

A Psicologia do Desporto, no seu vasto trabalho de investigação sobre equipas e as suas lideranças, destacam quatro fases pelas quais um grupo de atletas passa no decorrer de uma época desportiva, até se tornarem equipas de alto desempenho, sendo as mesmas:

  • Formação
  • Turbulência
  • Normalização
  • Rendimento

Formação

Esta fase corresponde ao inicio da época desportiva, essencialmente no período da pré-época. Estamos naquele momento em que há atletas novos, que procuram integrar e dar-se a conhecer. Muitos de países e culturas diferentes, com objetivos e expectativas distintas para o projeto que se inicia. Tudo novo, muita ambição, muito desconhecimento.

Vamos destacar aqui algumas características base da fase de formação:

  • É a fase dos atletas se darem a conhecer e estabelecerem as primeiras interações;
  • Os atletas tentam perceber se de facto começam a pertencer ao grupo e qual o papel que lhes é atribuído;
  • Depois de cada atleta encontram o seu lugar no grupo, começam a colocar-se á prova as relações interpessoais construídas. Mesmo aquelas formadas entre os lideres ( atleta-atleta) ou inclusive atleta-treinador);
  • Os atletas menos identificados com os grupos e os valores que começam a ser construídos, poderão começar a achar complicado criar relações positivas com os outros atletas;

Papel do Treinador na fase de Formação

Nesta fase o treinador tem a responsabilidade de ajudar a criar vínculos sólidos entre os atletas. Promover estratégias de caráter social (convívios, almoços…) e de tarefa (atividades de TeamBuilding), poderão ser boas estratégias a adoptar.

Destaco aqui também dois erros que por vezes são comuns nesta fase, sendo determinante o treinador evitar comete-los:

  • Ignorar a equipa (é essencial o treinador manter as vias de comunicação abertas. Perceber nesta fase quais as motivações e expectativas dos atletas e da equipa. No sentido de recolher informação e perceber as necessidades a trabalhar nesta, e nas fases seguintes)
  • Procurar ser adorado em vez de respeitado (quanto a este aspeto ressalvo um ditado antigo que levo comigo para a vida “mais vale cair em graça do que ser engraçado”). Criar empatia, desenvolver trabalho e criar a distancia necessária para o efetuar com eficácia.

Turbulência

Esta é uma fase que se caracteriza pelo conflito. Surge quando o treinador já analisou as características de cada atleta e possui já uma ideia geral do que será o seu papel dentro da equipa.

Por vezes catalogamos o conflito como uma palavra distante do crescimento de uma equipa. Porém, estes momentos são essenciais para a sua evolução. Choque de ideias, confrontações e posicionamentos distintos são essenciais para manter o grupo alerta, atento e fora de uma linha de conforto que por vezes nos distrai do essencial.

Características base da fase de turbulência:

  • Esta segunda fase tem como ponto-chave o choque de posições entre os atletas e o treinador;
  • Fase dos conflitos internos, depois do treinador e os atletas terem estabelecidos os seus papeis e status dentro de grupo;
  • Em muitos casos, poderão surgir mesmo conflitos corporais em contexto de treino, devido á competição entre os atletas pelos papeis e status dentro do campo;

Papel do Treinador na fase de turbulência

  • Comunicar de forma direta, honesta e objetiva com os atletas, acerca das avaliações que fazem ás suas características (aspetos a manter, desenvolver, eliminar e acrescentar), bem como ao papel que executam dentro da equipa. Essa informação permanente ajuda a reduzir incertezas no atleta, visto que essa incerteza é a principal fonte de stress nesta fase.

Normalização

A fase da turbulência acaba com a compreensão e aceitação dos papeis estabelecidos aos elementos do grupo. Começa a criar-se um clima de pertença e identidade á equipa.

Características base da fase de normalização:

  • Durante esta fase a cooperação e solidariedade são as palavras-chave;
  • Ao contrario das fases anteriores em que o enfoque do atleta estava no bem-estar pessoal, na fase de normalização os atletas – mesmo tendo os seus objetivos pessoais – trabalham juntos para alcançar os objetivos coletivos.
  • A coesão de grupo é desenvolvida nesta fase, quando os atletas apresentam o coletivo como prioridade;
  • Os papeis atribuídos aos atletas conferem estabilidade, sendo que os mesmos devem ter um valor de contribuição para que o atleta se sinta útil e valorizado durante a época;

Papel do Treinador na fase de normalização

  • Normas definidas, papeis distribuídos e a equipa a funcionar estavelmente… a caminho da consolidação. Nada melhor para que nesta fase o treinador se preocupe também com os aspetos de coesão social e de tarefa. É a fase essencial para promover ações pois o grupo está orientado para o alcance dos objetivos coletivos, estando totalmente receptivo para esse tipo de atividades e conteúdos.

Rendimento

Esta é a fase onde a cereja está no topo do bolo. É o ponto máximo da evolução de um grupo para uma equipa de alto rendimento desportivo. O grande desafio desta fase é mesmo… permanecer nesta fase e não retroceder!

Características base da fase de Rendimento:

  • Corresponde ao estado ideal no que diz respeito a níveis de desempenho desportivo;
  • Os atletas, nesta fase, encontram-se totalmente coesos depositando todas as energias no sucesso da equipa. Sentem-se parte dela… veem a equipa como uma unidade!;
  • Neste momento não há conflitos nem estruturais (papeis), nem interpessoais (sociais);
  • Os jogadores ajudam-se uns aos outros, dão opiniões, partilham feedback, superam-se e são solidários em campo. O sucesso da equipa é o principal objetivo;

Papel do Treinador na fase de Rendimento

Aqui estamos perante duas preocupações que o treinador deve ter na gestão desta fase. Proporcionar a cada atleta feedback sobre o seu jogo e garantir que todos os elementos da equipa se sintam integrados e parte ativa do grupo.

Caro leitor,

Até breve!

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