Treinador: Formação Diferenciada


Nos últimos anos tem-se verificado um aumento das ofertas formativas e bibliográficas sobre a atividade de treinador. A internet veio dar uma ajuda e hoje a informação está disponível para todos. Mas nem sempre foi assim!

E antes de mais é preciso afirmar que o treinador é um professor/formador dos jovens praticantes. No desempenho desta função o treinador deve recorrer a uma intervenção positiva, por oposição a uma via negativa de influenciar o comportamento do atleta. Os comportamentos fazem toda a diferença. Esses não estão na internet.

Para ser um bom treinador é preciso receber informação sobre todos os aspetos relacionados com as suas funções. No Sport Viseu e Benfica – épocas 2008/2009 e 2009/10, os treinadores já eram parte integrante de um Corpo Técnico e não de um «somatório» de treinadores. Fazia toda a diferença. A política da formação do clube assentava muita na qualidade dos seus treinadores e para isso realizava formações internas, promovia debates entre todos – do técnico dos seniores ao da pré-competição, reforçava os laços de empatia e a partilha de conhecimentos. Era um crescer diário. Uma exigência.

Periodicamente um dos técnicos fazia uma apresentação sobre um tema selecionado e disponibilizava-se a partilhar toda a informação, documentação, conhecimentos. Os «fantasmas», tão ao gosto dos treinadores, ali dentro não entravam. Todos eram treinadores – independente dos escalões etários que treinassem, eram essenciais para o sucesso coletivo, eram estimulados a observar os outros escalões numa perspetiva de colaboração sistemática entre todos. Não havia quintas. Havia liderança.

Mas não só de aspetos técnicos se faziam as agendas destes encontros. As atitudes, os comportamentos nos treinos e nos jogos, as relações treinador-atleta, treinador-pais eram sujeitos a críticas construtivas e a correções. Todos se sentiam protegidos por trabalharem em equipa e haver quem estivesse sempre atento e disponível para fazer a defesa do grupo, quer fosse a nível interno ou externo ao clube. Os objetivos eram os mesmos para todos: ser melhor treinador para melhor servir o clube.

E isto faz toda a diferença.

Venceu-se?!

– Sim. Esses jovens – hoje homens, são os melhores testemunhos disso mesmo.

Os clubes deviam perceber que a formação dos seus técnicos não pode cingir-se a cursos e colóquios generalistas. Têm de promover todo o tipo de manifestações que «obriguem» a uma melhoria constante. A uma identificação com o clube. Tudo leva o seu tempo – mas é assim que se constroem as instituições.

Estes, não sentem necessidade de criarem esses laços com os treinadores e assim abdicam de investir na formação contínua a nível interno. O perfil do treinador também deixou de ser importante em contraponto ao custo.

Os jovens atletas precisam que os treinadores evoluam – tenham um rumo comum, em conjunto. Que não tenham agenda própria. Será isso possível nos dias de hoje?!

O papel do treinador não é totalmente consensual. Ou seja, existem opiniões diferentes sobre a quantidade e que tipos de tarefas lhe cabem. O que parece unânime é que ser treinador não é fácil. Mas se estiverem integrados num Corpo Técnico que funcione, que seja organizado e coordenado, que tenha uma filosofia, um objetivo bem definido, tudo será menos difícil e mais apaixonante.

Quem chega de novo sente que tem pouco tempo para provar que vai criar mais valor – puro engano deles. Sabem que a construção de uma equipa e identidade coletiva demoram tempo e por isso busca-se o «sucesso» mais rápido que é, ao mesmo tempo, o mais extemporâneo. A pressa leva a que se construa uma carreira a «solo» – são os clubes que têm de se adaptar ao treinador. Não há paciência para aprender com a prática, com a experiência.

O treinador está numa aprendizagem constante e deve saber escutar – que é bem mais importante que ver, e delas selecionar o que interessa.

Aprende-se com todos com quem se trabalha diretamente.

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