DOR LOMBAR NOS JOVENS ATLETAS


A dor lombar nos atletas jovens é uma queixa comum, e deve ser levada a sério. Frequentemente resulta de uma lesão estrutural, que requer um alto grau de suspeição para diagnosticar, e tratar, adequadamente.

Estima-se que a dor lombar ocorra em 10% a 15% dos atletas jovens, mas a prevalência pode ser maior em certos desportos. Estudos mostram que a dor nas costas ocorre com frequência em jogadores de futebol, ginastas artísticas e ginastas rítmicas.

Os padrões de dor nas costas, em jovens atletas, são significativamente diferentes daqueles em adultos. As lesões interarticulares são mais comuns e os problemas relacionados com o disco são relativamente raros em crianças. A dor idiopática também é menos comum em atletas jovens. Os médicos que atribuem a dor lombar, em atletas jovens, a uma simples deformação nas costas, sem investigações, correm o risco de retardar o diagnóstico e o tratamento adequado de lesões mais graves, como espondilólise ou espondilolistese.

As lesões na região lombar ocorrem tanto a partir de um evento traumático agudo quanto de um microtrauma repetitivo (lesão por uso excessivo), sendo mais comuns as lesões por uso excessivo. Os desportos de contato, como o futebol, tendem a produzir lesões agudas causadas por impactos de alta energia, enquanto os desportos que envolvem flexão, extensão e torção repetitivas, como a ginástica, patinagem artística e dança, resultam em lesões por excesso de uso. É muito importante considerar outras causas mais “ameçadoras” de dor nas costas, como infecções, tumores ou condições inflamatórias.

FACTORES DE RISCO

Durante os períodos de crescimento rápido, os tecidos moles, como músculos e ligamentos, são incapazes de acompanhar a taxa de crescimento ósseo, resultando em desequilíbrios musculares e uma diminuição na flexibilidade. Isso pode colocar os jovens atletas em maior risco de lesão.

A cartilagem de crescimento e os centros secundários de ossificação, presentes apenas no esqueleto imaturo, são particularmente vulneráveis ​​a lesões. Durante o crescimento, essas áreas são o elo mais fraco de transferência de força e são susceptíveis a compressão, distração e lesão por torção.

A taxa de crescimento e maturação varia de criança para criança, resultando em diferenças significativas no tamanho, força e maturidade esquelética entre crianças da mesma idade cronológica. As crianças entre os 6 e os 10 anos de idade, em média, crescem cerca de 5 a 8 cm por ano e ganham cerca de 2 a 3 kg por ano. Durante a adolescência, as taxas de crescimento aumentam, sendo que o aumento de altura ocorre primeiro, seguido pelo peso.

Como o tempo e o ritmo de crescimento variam consideravelmente entre as crianças, os jogadores mais jovens, e menos maduros, podem potencialmente ter maior risco de lesões por contato com jogadores maiores, particularmente em desportos de contato, como o futebol.

O volume e intensidade de treino também podem causar lesões. As lesões ocorrem com mais frequência quando os jovens atletas participam de um desporto por períodos mais longos, como durante os torneios. É difícil determinar a quantidade adequada de treino para atletas jovens, porque nem todos os atletas toleram o mesmo volume de treino. As lesões por uso excessivo ocorrem mais frequentemente em atletas que apresentam crescimento rápido, sugerindo que o volume e a intensidade do treino, que o corpo de um atleta pode tolerar, podem variar conforme este cresce e amadurece. Além disso, a técnica inadequada de treino é um fator de risco para lesão em qualquer idade.

Fatores de risco adicionais para lesão lombar incluem fraqueza muscular abdominal dos flexores da anca, isquiotibiais e contratura da fascia toracolombar, anteversão femoral aumentada e aumento da cifose torácica. Estes fatores aumentam a lordose lombar e exercem um stress adicional sobre as estruturas posteriores da coluna.

PREVENÇÃO

Embora as lesões façam parte do desporto, existem maneiras de reduzir o risco da sua ocorrência em atletas jovens. Reconhecer os fatores de risco é um componente-chave para reduzir a lesão. Antes do início de uma temporada desportiva, uma avaliação de pré-participação pode identificar certos fatores de risco, como lesões prévias que não foram totalmente reabilitadas, ou fraqueza muscular ou diminuição da flexibilidade. Essas áreas podem, então, ser abordadas antes do início da temporada. Além disso, os atletas devem iniciar o treino de  força e de condição física geral, várias semanas antes do início da temporada. Os aumentos na frequência e intensidade do treino devem ser graduais, para permitir uma adaptação segura às exigências da modalidade praticada.

Durante os períodos de crescimento, os jovens atletas são propensos à perda de flexibilidade e desequilíbrios musculares que podem predispor à lesão. Devido a esse factor, os jovens atletas devem reduzir a quantidade de treino, e o volume de movimentos repetitivos, durante os surtos de crescimento. Certos desportos exigem manobras que colocam muita tensão na coluna posterior. Os atletas podem precisar de limitar o número de repetições dessas manobras, especialmente se houver dor associada às mesmas. Os exercícios de fortalecimento do tronco (“core”) e alongamentos dos isquiotibiais e flexores do quadril podem ajudar a reduzir o risco de dor lombar.

Para todos os atletas, a postura correta para limitar a quantidade de lordose lombar pode ajudar a prevenir lesões nesta zona da coluna.

Nos desportos coletivos, podem haver grandes discrepâncias nos tamanhos e forças relativas dos participantes em qualquer equipa. Devem ser feitas tentativas de adequar os atletas, em tamanho e força, para evitar lesões por contato com participantes maiores, e mais fortes.

Outro aspecto importante da prevenção é reconhecer que a dor nas costas não faz parte do desporto. O aumento das queixas de dor, especialmente se interferir na atividade, deve ser levado a sério, e tratado precocemente para evitar lesões significativas.

REGRESSO  À PRÁTICA DESPORTIVA

Quando um atleta lesionado regressa ao desporto, as recomendações devem levar em conta o diagnóstico, o tipo de modalidade praticada, a idade e a maturidade esquelética da criança, e a quantidade de cooperação do atleta, pais e treinadores para permitir modificações na atividade durante a recuperação. Em geral, o repouso relativo é indicado para permitir a correta recuperação. Atividades que causam dor devem ser evitadas até que a criança esteja sem dor. A maioria dos atletas consegue continuar no desporto com modificações da atividade. Uma vez que o atleta tenha atingido a amplitude de movimento sem dor em todas as atividades e tenha obtido força normal, ele poderá regressar à participação total do desporto.

CONCLUSÃO

Atletas jovens que apresentam dor lombar são mais propensos a ter lesões estruturais e, portanto, devem ser examinados por completo. A tensão muscular deve ser um diagnóstico de exclusão. O tratamento deve abordar a flexibilidade e os desequilíbrios musculares. As lesões podem ser evitadas reconhecendo e abordando os fatores de risco. O regresso ao desporto deve ser um processo gradual, uma vez que a dor se tenha resolvido e o atleta tenha recuperado a força total.

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