Olá, caro leitor!
Geralmente, os profissionais que se encontram integrados no contexto desportivo, apresentam uma frase que nem sempre é bem percebida fora do seu contexto de atuação: “O desporto é diferente de qualquer realidade, é um mundo á parte”! Sem duvida que é! Claro que vivemos numa sociedade orientada para resultados imediatos, onde a avaliação cada vez mais depende da quantificação e muito pouco da qualificação, onde tudo se encontra á distancia de um clique e a palavra paciência tem tendência a ser vestigial. Tudo isto é certo! Porém o desporto, apresenta um extra de uma habilidade que apesar de ser importante, temos de ter a consciência da necessidade da sua regulação… A Emoção! E aqui o desporto ganha aos pontos.
Desde cedo na carreira desportiva a emoção está presente. Vejamos, reparem nos vossos contextos de atuação, nas expectativas dos pais para com os seus filhos na prática desportiva e na orientação da avaliação do treinador – em que muitos casos se direciona para resultado imediato e todo o processo de formação do atleta fica desajustado (vejamos no Basquetebol, quantas equipas com atletas na fase de desenvolvimento montam uma zona defensiva no sentido de obrigar o advsersário a explorar zonas exteriores, onde ainda não há habilidade motora para execuções de sucesso? Não aprendem habilidades os defensores nem os atacantes!) – Tudo em prol de um resultado imediato… e esta orientação de resultado, visto que é um fator que não está todo sob o nosso controlo traz-nos… Instabilidade – Oscilando extremamente a regulação emocional dos seus agentes.
Sendo um dos elementos que mais está sujeito a esta desregulação… O TREINADOR! Sendo portanto essencial que o mesmo tenha total consciência do trabalho que tem de desenvolver ao nível das emoções.
Como nos dizem os diversos estudos desenvolvidos sobre a liderança e o contexto emocional do treinador, a influência que um treinador tem sobre a sua equipa nunca é neutra! O treinador nunca equivale a zero! Há sempre um impacto sobre os atletas. Podendo esse impacto ser positivo ou negativo, mas nunca Neutro!
Assim sendo, destaco os níveis de regulação emocional do treinador tanto no treino (onde os atletas têm de aderir aos processos de treino do treinador) como na própria competição (onde os atletas devem transferir as habilidades adquiridas através do treino):
No Treino:
- O treinador pode treiná-los ( Caso consiga que os atletas adiram ao processo de treino e ás suas metodologias – Onde está identificado o papel do atleta na equipa e um programa de melhoria de habilidades, quer no treino principal quer em atividades complementares – ex – psicologia do desporto, nutrição, preparação física, ou treino individual de habilidades);
- Destreiná-los (quando não há adesão, indefinição de papéis e ausência de uma visão por parte do atleta no projeto desportivo em que se encontra)
Na competição:
- Aumentar comportamentos direcionados antes da competição (Definição Plano/Estratégia de jogo, desenvolvimento e aplicação dessas atividades em contexto de treino e suporte permanente ás duvidas do atleta)
- Aumentar comportamentos evasivos antes da competição (Ausência ou plano subjetivo, ausência de antecipação ou aplicação em momentos antes da competição, e ausência de feedback ou feedback subjetivo)
Como podemos verificar, existe a perspetiva de regulação emocional e desregulação emocional. Esta regulação emocional que pode surgir no treinador da sua perspetiva cognitiva, ou seja, da forma como constrói o pensamento, afetando as suas emoções e por consequência as suas ações. A tal relação entre – PENSAMENTO – EMOÇÃO – AÇÃO.
Vamos apenas identificar para um melhor esclarecimento alguns tipos de treinadores que se encontram num determinado momento desregulados emocionalmente:
- O treinador culpado;
- O treinador sobrecarregado;
- o treinador stressado;
- o treinador ansioso;
- o treinador punitivo.
Como sabemos, o treinador tem sempre uma grande influência sobre o seu grupo e sobre cada atleta individualmente, apresentando os estilos de desregulação em cima descritos um impacto direto na relação entre o treinador e o seu grupo, bem como no rendimento do treino e competição, tanto de si próprio como dos seus atletas. Pois um treinador stressado, irá aumentar os níveis de ansiedade da equipa e um treinador punitivo, irá provavelmente baixar os índices de auto-eficácia nos seus atletas.
Vamos então treinar a regulação emocional!
O que é isto da emoção? Como nos diz Valdés Casal (1998), a emoção é o resultado de uma medida (ou avaliação) subjetiva da possibilidade ou probabilidade de sobrevivência do organismo numa determinada situação, ou quando defrontada com certos estímulos. A emoção informa o organismo sobre o contexto favorável de cada situação.
Vamos então transpor esta citação para o desporto! É no treino que desenvolvemos e trabalhamos as emoções. É a aprendizagem e repetição de habilidades, atitudes e conhecimentos que nos levam a sentir preparados para os contextos pré, durante e pós competitivos.
Quais são então as bases fundamentais para a regulação emocional do treinador:
- Ter paixão no que faz – Ter total realização pessoal pela sua atividade, por planear, por antecipar e direcionar, por ajudar atletas a evoluírem… por construir o treino!
- Foco na aprendizagem – Procura a sua própria evolução e melhoria de habilidades, e promove isso nos seus atletas: “O erro é uma excelente ferramenta de aprendizagem e evolução”
- Desfrutar e promover satisfação: Criar bons momentos sociais e de tarefa com os seus atletas – tendo em conta atividades extra, mas essencialmente a criação de momentos positivos no contexto da tarefa (exercícios que promovam satisfação – Palavra-chave: criatividade)
- Disponibilidade e desejo de evoluir – Rodear-se de várias valências – Uma equipa técnica multidisciplinar – partilhando o conhecimento e assumindo que o treinador não tem de possuir todo o conhecimento.
- Clareza para antecipar e dirigir – Observação e análise objetiva para identificar e direcionar comportamentos, habilidades e atitudes com os seus atletas.
Tendo em conta as bases fundamentais para trabalhar o seu próprio equilíbrio emocional, o que deverá ter o treinador em consideração para influenciar positivamente os seus atletas a nível emocional:
- Auto-Gestão de ideias e emoções: Procurar regular as emoções e basear-se em factos e comportamentos de desempenho. Ou seja, direcionar as análises para o desempenho em detrimento do resultado. Sempre que possível, procurar a participação dos atletas neste processo.
- Promover o crescimento da equipa: Analisar os comportamentos a MANTER, CONSOLIDAR, DESENVOLVER e ELIMINAR. Orientando o crescimento através desses dados concretos.
- Gerir permanentemente as emoções da equipa – Regulando estados de euforia, depressão e raiva.
- Prioridade ao desempenho – Não dependemos totalmente de nós para atingir os resultados de uma competição (há adversário, calendarização, estado atmosférico, condições do recinto), desta forma devemos orientar a nossa análise para o desempenho, promovendo assim a estabilidade emocional… pois o desempenho temos a certeza que todos – individualmente e equipa – conseguimos controlar.
- Gerir os próprios erros e os da equipa como uma ferramenta de aprendizagem.
- Procurar e criar desafios para si próprio e para a equipa
Na segunda parte do artigo “O treino do treinador… treinar as emoções!” Vou identificar as principais emoções que desiquilibram o estado emocional do treinador e encontrar algumas ferramentas práticas gerais que possa ajudar o líder da equipa a regular o seu estado, para que, em contexto de treino e competição a sua atuação seja mais completa e tenha como finalidade, uma influência positiva para a equipa e claro… para os seus atletas!
Caro leitor,
Até breve!
[…] demais, espero que a primeira parte do artigo “O treino do Treinador… Treinar as Emoções!“, tenha apresentado um conteúdo que permitisse perceber a importância e influência que o […]