Há uns tempos passei por um clube de futebol e fiquei a ver um pouco do treino. O exercício que estava a decorrer consistia em duas partes. A primeira era numa escada de agilidade, onde os atletas faziam um trabalho de pés à máxima velocidade, e a segunda era um trajeto de mais ou menos 10 metros de sprint, finalizando com um remate à baliza de fora da área. Depois iam buscar bola e passavam ao colega que vinha atrás deles, para que este realizasse o remate. Os jogadores iam alternando entre o lado direito e o lado esquerdo…
Passado uns minutos, em que o trabalho de pés ia mudando na escada, alguns atletas estavam totalmente compenetrados no que estavam a fazer, evoluindo facilmente nos níveis de dificuldade, mas a maioria começou a ficar frustrada, porque falhavam alguns remates. Com o cansaço e com o foco no erro, rapidamente o foco deixou de estar na melhoria do movimento, e muito menos no trabalho de pés.
Quando me comecei a aperceber-me disto pensei: “Treinam os pés, mas não treinam a mente.” Fui-me embora mas fiquei a pensar, quão mais fácil seria, e quanto mais evoluiriam os atletas se houvesse alguma atenção extra a estas questões. Achei graça ao exercício que estavam a fazer, treinava várias coisas… Técnica individual, trabalho de pés, remate, passe, e a parte física pela máxima velocidade na agilidade, pelo sprint e pelo exercício ser continuado. Mas também se podia aproveitar para treinar a mentalidade, e esta consciência não tem que vir só dos treinadores, tem que vir de cada atleta.
O foco só pode ser um, se está no erro não está na melhoria desse erro. Se está no que falhei não está no que quero acertar a seguir. Se está no quanto estou cansado(a) não está no quanto tenho ainda de energia. Recebemos aquilo em que nos focamos, e geralmente o hábito é focar-nos no que nos traz uma emoção mais forte no momento, sejam ela positiva ou negativa. Aprender a redirecionar esse foco é crucial para o sucesso desportivo, e em geral.
O que o treinador, e até os pais, podem fazer é aumentar a comunicação sobre aquilo que quer que o atleta, e filho, se foque. Em vez de se falar sobre o que se fez mal, pode falar-se sobre o que se quer que se faça bem a seguir. Em vez de se falar sobre o cansaço que o atleta apresenta, falar sobre o quanto ele ainda pode dar. Pequenos ajustes de comunicação, mudam o foco do atleta para o que queremos que ele direcione a sua atenção.
Por sua vez, o atleta, que tal como todos nós, tem um discurso interno ativo (conversas que temos connosco mesmos dentro da nossa cabeça), deve também treinar para que esse discurso seja à volta do que ele quer fazer, e não do que ele já fez ou poderia ter feito.
O que dizemos é controlado pelas nossas emoções, mas quando trabalhamos a nossa parte psicológica e mental, o que dizemos é que começa a controlar as nossas emoções. É uma das grandes diferenças entre quem tem sucesso no que faz, e quem só faz. Uns controlam, outros são controlados. Qual queres ser?
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