Hoje em dia os nossos jovens são bombardeados com valores com os quais as gerações anteriores raramente tinham que conviver. Valores como a coragem, a humildade, a integridade ou a perseverança parecem estar em risco de extinção. Os seus guardiões são actualmente as famílias e as escolas que os tentam praticar e incutir, uma vez que, quer a internet, quer a cultura pop mainstream se têm revelado incapazes de o fazer.
“Novos” valores estão a ganhar um crescente espaço no desporto profissional e, consequentemente, no desporto amador e de formação. É cada vez mais frequente os jovens praticantes receberem uma mensagem diferente daquela que os seus pais queriam que eles recebessem. A perseverança parece ter sido substituída pela gratificação instantânea, a humildade substituída pela fama, o respeito substituído pelo “e o que é que eu ganho com isso?”.
Num estudo realizado em 2011 pelas psicólogas de UCLA, Yalda Uhls e Patricia Greenfield, foram analisados os programas televisivos dos últimos 50 anos nos Estados Unidos e quais os valores transmitidos nos programas para a faixa etária dos 6 aos 9 anos. O que se verificou foi uma mudança drástica! Entre 1967 e 1997, os valores mais presentes eram o espírito de comunidade, a benevolência, a imagem, a tradição e a popularidade. No final da lista encontravam-se a fama, a condição física, o hedonismo o espiritualismo e o sucesso financeiro. Avançando até 2007 (ano em que os programas de maior sucesso foram Hannah Montanna e American Idol) os valores mais estimulados passaram a ser a fama, a realização, a popularidade, a imagem e o sucesso financeiro, seguidos de perto pelo egoísmo, ambição, materialismo e prepotência. No final da lista encontramos agora o espiritualismo, a tradição, a segurança, a conformidade e a benevolência.
Com a globalização da internet e as centenas de canais televisivos, são cada vez mais os programas para a faixa etária dos 6 aos 9 sobre crianças que buscam a fama através da indústria do entretenimento. A consequência? A “Fama” é agora o valor mais presente na mente das crianças destas idades. Outro estudo recente revelou que, para as crianças com menos de 10 anos, os objectivos mais importantes são: 1) ser famoso, 2) ser atraente e 3) ser rico.
É decisivo que os pais, professores e treinadores ganhem consciência da cada vez maior discrepância entre as reais necessidades e as vontades induzidas nos nossos jovens para se prepararem de modo a melhor servirem as primeiras, combatendo de forma informada e determinada as segundas. Se o mundo muda, adaptemo-nos a essa mudança sem fazermos de conta que não a vemos.
Em jeito de conclusão, os nossos jovens são hoje expostos a valores distorcidos que não os preparam para a vida adulta onde o narcisismo, a fama e a fortuna são raramente uma realidade. O desporto deve assumir, por isso, o seu papel crucial de caminho saudável de preparação de melhores cidadãos e cidadãs, para além de preparar melhores atletas.
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