Ensinando os Princípios do Treino aos Pais dos Atletas:
A Individualização
A função de treinador desportivo tem evoluído ao longo das últimas décadas, aumentando exponencialmente as tarefas que lhe estão alocadas. Nos dias de hoje, ao treinador não basta ter sólidos conhecimentos técnicos, táticos e físicos, mas colocam-se outros desafios tão ou mais importantes que os anteriores.
Se pensarmos na função do treinador de futebol Infanto Juvenil, facilmente verificamos que as suas incumbências se alargaram para lá do desenvolvimento do Jovem atleta, pois para atingir este desiderato, é indispensável estabelecer uma relação simbiótica com os pais. Nesse sentido, somos da opinião que caberá ao treinador de jovens promover, a par do desenvolvimento dos atletas, uma educação desportiva dos pais, através de ações de formação e sensibilização. Esta tarefa é hoje fulcral, porquanto os pais analisam, escalpelizam e avaliam a práxis diária do treinador, sendo que, na maioria das vezes, o fazem de um modo leviano, superficial e reducionista.
Acresce o facto de, na era das novas tecnologias, ser fácil o acesso a informação sobre treino desportivo, muita dela sem qualquer fundamento científico e pedagógico, dando aos pais uma sensação de auto percepção de competência que, na verdade, não possuem.
Deste modo, a fim de se evitarem clivagens e mal entendidos, acreditamos que deverá o treinador promover momentos de aprendizagem para os pais dos jovens atletas, isto é, oportunidades de educa-los desportivamente, familiarizando-os com as práticas de treino.
É nesse sentido que nos propusemos a escrever esta série de artigos, versando os princípios do treino, visto estes se assumirem como o principal sustentáculo da planificação do treino desportivo.
Assim, começaremos a nossa caminhada, explicando aos pais o Princípio da Individualização, bem como a sua importância no contexto de treino desportivo infanto juvenil.
Quando falamos em individualização falamos da necessidade de se perceber que crianças diferentes, carecem de métodos de treino e comportamentos diferenciados, isto é, não podemos tratar igual, aquilo que é diferente, pois não há nada mais injusto do que proceder dessa forma. Assim, o grande objetivo do treinador de futebol, não deverá ser tratar todos do mesmo modo, mas antes, tratar todos bem, o que implica, à partida, diferenciação de exercícios de treino, formas de tratamento e modos de interagir.
Dois conceitos extremamente importantes e que nos ajudam a entender esta problemática, são o da Idade Cronológica e Idade Biológica.
Duas crianças, nascidas no mês de Janeiro de 1999, apresentam a mesma Idade Cronológica, isto é, nasceram no mesmo mês e ano, porém, poderão apresentar níveis de maturação bem diferenciados, isto é, Idade Biológica.
Significa que, quando os treinadores criam grupos de trabalho baseados exclusivamente na Idade Cronológica, podem estar a cometer um enorme erro metodológico, pois as atividades podem não se ajustar aos diferentes atletas. Nesse sentido, recomendar-se-ia a criação de grupos de nível de desempenho, procurando equilibrar os atletas pelas capacidades já reveladas. Mas, porque razão, em muitas situações, os treinadores vacilam, e não adoptam este método? Porque isto implica explicar aos pais que as crianças, apesar de terem a mesma idade cronológica, apresentam diferentes níveis de maturação e que, por esse motivo, reclamam diferentes métodos de trabalho, com o objetivo de potenciar todos. Esta é uma explicação complexa e intrincada, mas fundamental, a fim de estabelecer uma comunicação franca e aberta com os pais.
Caros pais de jovens atletas,
Não estranhem nem se surpreendam se no treino dos vossos filhos, assistirem a exercícios distintos, dirigidos a grupos de crianças com níveis de desempenho diferenciados. Se assistirem a este tipo de prática, deem graças a Deus, pois estão perante um treinador competente, diligente e zeloso pelo desenvolvimento dos seus atletas. Não entendam este procedimento como um ato discriminatório com o intuito de beneficiar uns em prol de outros. Aceitem este modo de proceder, como a melhor forma de ajudar todas as crianças a desenvolverem as suas competências, assumindo sempre a premissa que não há nada mais injusto e ingrato do que tratar igual, pessoas com níveis de desempenho diferenciados.
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