Potencializar a aprendizagem dos atletas é (ou deveria ser) o principal objetivo de um treinador de formação. O ensino do jogo ocorre principalmente em treino, então, para maximizarmos o processo de aprendizagem dos atletas, teremos de refletir sobre como potencializar o processo de treino.
Analisando cuidadosamente, o primeiro passo para potencializar o treino será utilizar da melhor maneira o tempo disponível para o mesmo. Como é lógico, os jogadores não se encontram em processo de aprendizagem durante a totalidade do treino e, se quisermos ser precisos, nem mesmo no decorrer de um exercício os atletas se encontram sempre em aprendizagem. O designado Tempo Potencial de Aprendizagem é considerado o tempo suscetível de promover a aprendizagem e é este período que qualquer treinador pretende maximizar. Para isso é necessário planear e gerir minuciosamente todo o processo de treino.
Este planeamento inicia-se com uma organização dos conteúdos a transmitir aos atletas que deve ser realizado no início da época, podendo também acontecer em diversos momentos no decorrer da mesma. Tem em vista a estruturação daquilo que vão ser os objetivos de trabalho para as futuras sessões de treino e quanto mais precisa for a organização dos conteúdos, mais focado será o processo de treino. É um facto que esta planificação poderá sofrer várias alterações durante a época, pelo que cabe ao treinador ter a capacidade de se adaptar aos diferentes contextos, ajustando os conteúdos como melhor entender.
Com a organização dos conteúdos completa, o treinador deve encontrar a melhor forma de os aplicar em treino. A aplicação dos conteúdos é realizada através dos exercícios apresentados. Creio que este seja um dos principais fatores potenciadores do treino. Os exercícios escolhidos pelo treinador. É difícil definir um bom exercício mas, na minha opinião, os exercícios propostos devem conter alguns princípios base essenciais ao seu sucesso. Um deles remete para o foco do exercício, que deve ser direcionado para aquilo que são os objetivos predefinidos para a respetiva sessão de treino. Exercícios realizados sem foco, pouco ou nada potencializam o processo de treino. Outro fator a ter em conta prende-se com a gestão do próprio exercício deve ser realizada numa lógica global, ou seja, dar a todos os atletas o máximo de tempo de prática, evitando, por exemplo, filas de espera.
Abordando a tipologia dos exercícios, o método de ensino do jogo baseado nos jogos condicionados é, na minha opinião, aquele que mais potencializa o treino, pois as técnicas surgem de forma orientada e provocada, aumentando a capacidade de decisão e criatividade dos atletas. É assim de evitar exercícios analíticos, onde os atletas se limitam a realizar uma série de movimento idênticos inúmeras vezes, pois no que diz respeito a movimentos desportivos, a aprendizagem não deve ser apenas baseada em processos de repetição. Há ainda que ter em atenção a quantidade de exercícios impostos no treino. Um número excessivo de exercícios pode levar a que o Tempo Potencial de Aprendizagem acabe reduzido devido às transições de exercícios e até mesmo ao tempo que os atletas possam levar até executar a tarefa com a taxa de sucesso desejada para que ocorra aprendizagem efetiva (taxa situada nos 80%).
Estando os exercícios definidos, há agora que aplicá-los no processo de treino. Mas não basta empregar o exercício e esperar que os jogadores obtenham sucesso neste processo. É necessário intervir. Numa primeira instância, a instrução acerca do exercício deve ser simples, concisa e de fácil compreensão, pois é extremamente necessária para que os atletas saibam qual o objetivo da tarefa a realizar. Podem aqui ser também apresentadas algumas formas de alcançar esse objetivo, mas sem nunca padronizar as escolhas dos jogadores. Com o exercício iniciado, o treinador deve avaliar o desempenho dos atletas e fornecer o devido feedback (informação sobre a qualidade e sucesso da tarefa), pois sem consciência dos resultados a prática pouco ou nada potencializa a aprendizagem.
O treinador deve estar disposto a intervir sempre que necessário, mas sem nunca anular o processo de tomada de decisão do atleta. Privilegiar o feedback interrogativo faz com que os atletas se questionem sobre as suas decisões, estimulando o pensamento sobre o jogo e por consequência potencializando características como o empenhamento cognitivo do atleta.
O auge da potencialização do treino será o treino individualizado. Como é lógico, executar este conceito a cem porcento é impossível. Contudo, trabalhar nesta direção poderá trazer frutos ao processo de aprendizagem. Todos os atletas são diferentes e o que para um pode ser simples de executar, para outro pode ser de extrema dificuldade. É da responsabilidade do treinador gerir este processo aplicando condicionantes aos exercícios, pensando em cada atleta como um ser único. Ver a árvore e não apenas a floresta, olhar para cada atleta de forma individualizada, trará posteriormente sucesso à aprendizagem de cada um e, consequentemente, à equipa.
A máxima potencialização do treino é o objetivo de qualquer treinador, para que assim se consiga maximizar a aprendizagem dos atletas. Orientar a prática para objetivos específicos, colocando os jogadores em situações onde estes obtenham uma taxa razoavelmente elevada de sucesso e onde tenham a oportunidade de praticar o máximo tempo possível são fatores fundamentais para o sucesso individual e coletivo de uma equipa de futebol de formação.
Espetacular e com os princípios que devem os treinadores de formação ter em atenção.