Mostrando-se preocupada por uma competitividade desmedida e desenfreada em que a formação fica para segundo plano.
“Que valores queremos transmitir aos nossos filhos?”.
“Levo mais de sete anos a percorrer campos de futebol a acompanhar e apoiar os meus filhos que, semana após semana, têm o seu jogo (independentemente de fazer calor, frio, chuva ou vento). Ambos começaram a jogar com apenas seis anos cheios de ilusões e sonhos. Durante este tempo desfrutei de momentos maravilhosos mas também vi, horrorizada, comportamentos e atitudes que em nenhum caso deveriam suceder no mundo do futebol de formação”
Assim começa a sua mensagem de correio electrónico (e-mail) uma mãe que, como explica, tem dois filhos que somam aos milhares que enchem cada semana os campos de futebol do nosso país. A seu ver, nos últimos anos, a competição deu um passo em frente deixando a formação numa escala demasiadamente reduzida. “Creio ser muito positivo para os nossos filhos incutir-lhes valores e princípios, como o espírito desportivo, a união, a camaradagem, o respeito pelo adversário, o trabalho em equipa, a superação individual e coletiva, a ética desportiva a competitividade, e sou consciente de que a finalidade de qualquer desporto é ganhar, mas… A que Preço?”
Esta pergunta está sempre muito presente nos seguidores do futebol de formação, como o desta mãe, que não nega ter vivido situações muito positivas mas também relata outras menos boas. “Vi treinadores que perdem a postura e gritam barbaridades desde o banco; vi pais e mães que desde as bancadas insultam os árbitros porque se enganaram; inclusivamente insultam crianças da outra equipa. Vi agressões em campo entre crianças incentivadas pelos seus treinadores e inclusive em outras ocasiões incentivados pelos seus próprios pais e mães. Vi crianças a chorar no final de um jogo em que os pais os recriminavam porque, a seu ver, não tinham jogado bem”.
E continua. “Vi árbitros que se crêem “todo-poderosos” e que atuam sem se consciencializarem de que eles também têm uma função educativa e pedagógica; vi a desilusão de muitas das crianças que terminavam o jogo derrotados depois de terem desfrutado do seu desporto favorito (que sentido tem marcar 10, 15, 20, 25 golos durante um jogo?); vi como crianças ficam no banco mantendo a ilusão de poder jogar uns minutos e esse momento não chega “porque o resultado está incerto e um pouco desajustado”; vi como pais e mães criticam os colegas de equipa dos seus filhos porque os consideram “maus”.
Tudo isto expresso por esta mãe, é o pensamento de muitas outras pessoas próximas do futebol de formação, que também se perguntam pelos verdadeiros valores que se estão a transmitir. “Todas as semanas são publicadas notícias sobre as agressões e situações indesejadas em campos de futebol onde as principais testemunhas são crianças, que passam a ver como algo recorrente, insultos, menosprezo, agressividade… E acredito que a responsabilidade maior recai sobre as pessoas que gerem e dirigem o futebol, os clubes desportivos, os treinadores de formação e os pais e mães que afinal entramos neste jogo”, contínua para concluir com o seu verdadeiro sentir:
“De momento continuarei a apoiar e a animar os meus filhos a praticarem o seu desporto favorito (até que eles queiram, e tenham motivação, um fator chave para o desenvolvimento do interesse e da sua autoestima), e que nunca percam a ilusão, o sonho e, sobretudo, que “ganhem” os valores do desporto para serem melhores pessoas!
Nota: Esta mensagem de correio electrónico (e-mail) é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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