Treinadores de futebol de formação; especialização, sim, não ou talvez?


No que diz respeito à especialização ou segmentação nas áreas profissionais é um fenómeno real e crescente desde os finais do Século XX.

No que ao futebol de formação diz respeito este fenómeno (na minha opinião e do meu conhecimento) ainda não chegou e será que vai chegar? Será necessário? Será útil? Escrevo estas linhas como treinador, logo, parte interessada e possivelmente não suficientemente distante, talvez por isso não tenho uma opinião formada, ou melhor a minha resposta à pergunta do título seria, talvez.

Nos clubes, entre diretores, entre treinadores comenta-se com alguma insistência que “os melhores misteres devem estar na base” , esta opinião e quem a defende entende que nos primeiros anos de contato com a modalidade os praticantes devem estar com os treinadores mais competentes, com mais experiência logo e à partida com mais conhecimento mas será assim ?

Também é sabido que para a maioria dos treinadores a sua realização pessoal a sua motivação para o treino acontece no futebol 11 e muitos defendem que a razão principal é a competição nos últimos escalões de formação. Mas será a experiência ou a motivação, gosto, paciência e sobretudo a maturidade do treinador que irá definir se deve estar a treinar equipas dos primeiros escalões de formação.

É sabido que lidar com miúdos até 12 anos não é fácil ao nível da concentração, a brincadeira é bastante presente, mas também não é suposto ser assim?? Os miúdos ao final de estarem 7/8 ou mais horas nas escolas quando chegam ao treino não será o momento libertador, de brincadeira, de divertimento ??? É essencialmente para isso !!!!

A especialização no futebol de formação pode fazer sentido se o treinador reunir um conjunto de competências que o faça optar por essa mesmo especialização. Veja-se o caso dos treinadores de guarda-redes, são especializados embora e bem, fazem parte da equipa técnica mas tem funções específicas no grupo de trabalho.

Se um treinador se sente motivado e realizado pode e deve manter-se num determinado escalão. Conheço um treinador que é conhecido como o “treinador dos iniciados” ou seja, trata-se de um treinador que se sente motivado e com resultados positivos (ao nível da formação, não falo de resultados desportivos ) e como tal mantêm-se nesse escalão há muitos anos.

Voltando à questão dos “melhores” na base, é evidente para todos que um treinador, diria eu, até ao escalão de Infantis antes de mais nada tem de ser competente pois sabemos que até aos 12 anos devem estar acompanhados por treinadores com conhecimento e essencialmente competentes considerando os diferentes vetores do treino, técnico ,físico ,tático , grande componente de coordenação motora etc. Mas em boa verdade todos os escalões necessitam de treinadores com competência e que dominem os diferentes vetores do treino.

Mas e o papel dos clubes no processo de escolha dos treinadores para os diferentes escalões como funciona?

O Clube é o primeiro e principal responsável para determinar que tipo de treinador pretende para cada escalão, mas na minha opinião funciona a “olhómetro” e com o critério de oportunidade, os clubes vivem do amadorismo dos seus dirigentes sem tempo e muitas vezes sem conhecimento do fenómeno e fazem escolhas erradas e muitas vezes não tem a ver com a qualidade do treinador mas sim está desajustado para o escalão que treina.

Os treinadores também são igualmente responsáveis, muitos afirmam, não querer treinar miúdos pequenos porque não têm paciência, sendo legítimo não me parece correto até porque o ensino do jogo, o incentivo à técnica individual, os primeiros conceitos de organização, jogo coletivo etc começa desde a iniciação logo os treinadores ao divorciarem-se desta função fundamental mais tarde nos escalões onde estão porventura apenas irão criticar os colegas que anteriormente não souberam ensinar estes conceitos e a isto se chama responsabilizar terceiros.

E o papel dos organismos oficiais qual tem sido?

Apesar de ultimamente parecer haver vontade e disponibilidade para um maior reconhecimento dos treinadores de formação o certo é que na minha opinião há um longo caminho a percorrer, pois caso houvesse um maior reconhecimento do trabalho realizado pelos treinadores nos diferentes escalões de formação poderíamos ter condições para que os próprios treinadores perceberem que, talvez, a especialização faça sentido.

Pessoalmente e em teoria não vejo qualquer problema que se avance para a especialização nas diferentes modalidades do futebol de formação, contudo, também me parece redutor e castrador da evolução dos treinadores ao ficarem afetos à uma só modalidade, por isso acho que o assunto deve ser discutido entre todos os intervenientes mas como já afirmei a minha resposta à pergunta “Treinadores de futebol de formação; especialização, sim, não ou talvez?” respondo; talvez.

1 Comentário

  1. Raimundo Rosa dos Santos Filho
    15 Março, 2017
    Responder

    Espero que em um futuro próximo todos is técnicos estejam qualificados por um orgao que autorize a licença para tal e tenham oportunidade de mostrar trabalho , pois sabemos q existe muitos competentes e licenciados,mas,que nao encontram oportunidade de desenvolver ,ou mostrar suas competencias.

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