Qual o papel dos pais na formação desportiva e pessoal do atleta?


Quando se fala dos pais no mundo do desporto as opiniões divergem, porém há que ter presente que estes se encontram sempre do lado da solução e nunca do problema.

Em primeiro lugar, será interessante compreender o porquê de alguns dos seus comportamentos. Na sociedade atual o sucesso desportivo, principalmente no futebol, é cada vez mais valorizado, sendo muito fácil para um pai ficar entusiasmado com o jogo e por vezes esquecer que está perante uma “brincadeira” de crianças. É igualmente compreensível desejar que o nosso filho seja o melhor, muitas das vezes para através dele viver o sucesso desportivo, uma vitória dele é uma vitória nossa. Como tal, a maior lacuna neste capítulo, encontra-se na incapacidade dos pais em definir o seu papel na vida desportiva do seu filho. A sua atitude deveria ser definida pelos objetivos/motivações do seu educando, compreendendo que a sua função na qualidade de educador é orientar e proporcionar caminhos para que eles mesmos possam atingir/ traçar os seus próprios objetivos, sejam eles de que natureza forem, possam ou não divergirem do que é espectável para o seu educador. Sim, porque na maior parte das vezes o nosso filho não pratica futebol para ser o melhor ou para ganhar, mas sim para se divertir, para aprender coisas novas, experimentar uma nova modalidade, conviver, fazer amigos…

Então como podemos nós, treinadores e/ou dirigentes sensibilizar os pais para estas questões e que benefícios podem daí advir?

Uma das estratégias passa por realizar uma reunião com os pais dos atletas na qual deverão ser abordados/debatidos os seguintes temas:

1. Direitos das crianças:

  • Praticar desporto independentemente das suas dificuldades;
  • Divertir-se e jogar como uma criança;
  • Beneficiar de um ambiente saudável;
  • Ser tratado com dignidade;
  • Ser orientado e treinado por pessoas competentes;
  • Ser submetido a treinos adequados aos ritmos individuais.

2. Objetivos do desporto Infanto-Juvenil: primeiro formar pessoas e só depois formar atletas/campeões! Os critérios de sucesso para os atletas deveram ser centrados na persistência e no esforço e não no resultado das competições;

3. Quais são os motivos que levam as crianças a praticar desporto: podem ir desde ser o melhor, a apenas querer manter a forma (saber adequar a intervenção dos treinadores e pais consoante este ponto);

4. Qual o papel, comportamento e responsabilidade dos pais: o dever de estar atentos, sobretudo à ansiedade competitiva do filho, que tem várias consequências, sendo de igual importância perceber a origem da mesma;

5. Quando os pais se estão a envolver em demasia na vida desportiva do filho e as consequências que daí podem resultar? Ficam aqui alguns indicadores a ter em conta: demasiada preocupação com os resultados desportivos, demasiado tempo a questionar o treinador sobre as estratégias para o jogo, capacidades dos atletas e forma como orienta os treinos e competições, descoberta da falta de gozo do seu filho na atividade, tentativas de pressionar o filho a treinar horas extra;

6. Atitudes aconselhadas para com os filhos/estratégias para ajudarem os filhos a atingir os seus objetivos;

7. Definir um canal de comunicação e de partilha entre pais e treinadores, com o intuito de os munir de uma ferramenta onde mais facilmente sejam capazes de interpretar determinados comportamentos que o atleta possa apresentar (bons ou maus) em casa ou nos treinos, e daí tirar ilações, de maneira a perceber qual a melhor estratégia para “se chegar” à criança.

Desta reunião pode resultar uma intervenção muito mais eficaz junto da criança, quer por parte do pai, quer por parte do treinador, não só a nível daquilo que é a criança enquanto atleta mas também enquanto pessoa em desenvolvimento.

Esta é somente uma estratégia, existem várias, onde até uma conversa informal com os pais após o término de um jogo poderá ser uma opção válida e eficaz. A mensagem final deverá sempre apontar para a seguinte conclusão: quando trabalhamos todos em conjunto o resultado só pode ser o melhor!

Para complementar o artigo, anexo um vídeo realizado no âmbito do projeto “ODC….um olhar diferente”, realizado pelo Ourique Desportos Clube (Clube da AF Beja, onde sou treinador), que tinha como objetivo dar a conhecer melhor o Clube e o trabalho que tinha vindo a ser realizado até então. No vídeo abordo o tema em questão e deixo alguns conselhos aos pais.

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