A posição de Guarda Redes, na generalidade das modalidades, mas essencialmente no Futebol, é provavelmente a posição à qual se exige a perfeição. Não por ser uma posição reconhecida ou valorizada mas porque a sua importância em jogo é extrema, é essencial para a concretização ou não, daquele que é o momento mais esperado do jogo, o “GOLO”! Ao Guarda Redes pede-se que seja o herói de uns e o vilão de outros.
No entanto a pressão do Guarda Redes vai muito mais além daquele que é o seu papel por natureza.
Ao Guarda Redes pede-se frieza, mas acima de tudo segurança, pede-se também coragem e bravura, muitas vezes até loucura.
Pedimos-lhe que seja comunicativo, um líder da defesa e da própria equipa mas também que seja o mais calmo e o que lide melhor com os momentos de maior pressão durante o jogo.
Exigimos-lhe concentração máxima e eficácia 100% , que decida bem e que execute ainda melhor, que defenda bem a baliza mas que também saia no tempo certo aos cruzamentos, que consiga gerir bem o espaço entre ele e a linha defensiva mas que também que seja exímio no 1×1 com os avançados, pedimos-lhe para que saía a jogar curto em posse, mas de seguida pedimos que jogue longo com precisão.
Exigimos tudo e damos tão pouco!
No entanto a pressão do Guarda Redes não é essa, isso é a vida que nós escolhemos, é a nossa missão, não falhar e contribuir assim para o sucesso da equipa.
O problema é quando esta exigência não é acompanhada de um treino devidamente especializado e de um acompanhamento regular e profundo. O problema é quando o feedback só aparece quando erramos e ainda por cima negativo, o problema é quando não elogiamos a eficácia da mesma maneira que criticamos a ineficácia.
O problema é quando a exigência é totalmente desajustada á idade do Guarda redes, ao seu nível técnico, ao seu contexto desportivo.
Talvez nunca tenhamos pensado nisso, mas já pensaram o que é ter 8/9 anos e ter de bater um pontapé de baliza, com 13 jogadores à nossa frente, com diversas vozes a aconselhar-nos o que fazer, não ter força nos músculos para levantar a bola, ter consciência disso e ainda ter o árbitro a olhar para nós, pedindo que nos apressemos? Pois é, para um Guarda Redes desta idade, isto é pressão.
Muito mais exemplos poderia dar, mas deixa-vos apenas este exemplo do nosso quotidiano. Imaginem que estão na escola ou mesmo no trabalho e vos pedem para fazer algo para o qual nunca vos ensinaram, não vos deram ferramentas, não estão física nem mentalmente preparados para tal mas é vos sugerido que não falhem. Como se sentiriam? A vida de grande parte dos jovens Guarda Redes é assim, uma pressão constante com pouco ou nenhum apoio para alem da família, treinadores e colegas mais conscientes.
Quanto aos profissionais, a conversa é outra, não lhes falta nem treino nem ferramentas para saber o que fazer em campo, mas o problema é o mesmo, são humanos, estão sujeitos a uma pressão ainda maior pois cada erro deles pode valer “milhões” mas no entanto o tratamento é o mesmo. Se defendem são os melhores, se erram seja na decisão ou na execução, tornam-se nos piores.
A vida é feita de decisões e a carreira de um Guarda Redes é feita de constantes decisões com um alto preço a pagar e a decisão mais simples é aquela que é tomada todos os dias no balneário.
“ Ao calçar estas luvas e ao vestir esta camisola diferente, sei da pressão que cai sobre mim, mas esta paixão é superior a qualquer pressão ou desilusão. Vou acertar e vou falhar, mas vou voltar sempre a calçar”
Excelente texto, deveria ser lido por alguns treinadores da formação, mas que de formadores nada têm. Assim, talvez mudassem radicalmente a sua forma de agir e deixassem de marcar negativamente os jovens aspirantes a Guarda Redes.